domingo, 25 de maio de 2014

Profissão de Fé.



Profissão de Fé.

Pego-me as vezes pensando como uma pessoa é capaz de suportar tantas dores dentro do si!
Ouvimos histórias de vida tão devastadoramente dramáticas – mesmo com já alguma experiência clínica  em nosso ofício de psicoterapeutas – que diante das quais fico com uma sensação de impotência tão grande que, insistentemente, me pergunto como aquela pessoa conseguiu chegar até aqui e estar, neste exato momento, contando-me sua história de vida e relatando seu infinito sofrimento, sentada à minha frente!
Muitos quebraram, sem dúvida. São os que culminaram sua história dolorosa de vida com o evento trágico e equivocado do suicídio.
São esses os pacientes com quem trabalho. Como, de alguma forma, posso escolher meus próprios pacientes, esses são quase sempre os sobreviventes de traumáticas tentativas de suicídios que não se realizaram ou os desejosos de fazê-lo. No mais, pessoas atormentadas por forças irracionais, estranhas e descontroladas que as dominam.
Entretanto, quando me coloco ali face a face com essas pessoas, no silêncio palpitante do consultório, ouvindo as palavras dolorosamente cálidas que são pronunciadas, o drama de uma alma revelado, numa relação eu-tu que se estabelece entre dois frágeis seres humanos, uma crença fundamental vai me tomando e passa a envolver todo meu trabalho. Uma crença que dia a dia vem crescendo, sem dúvida que, em parte, baseada nos meus estudos acadêmicos e experiência clínica, mas que vai muito além disso: a crença de que –  desde o mais íntimo daquela pessoa que ali se apresenta colocada a minha frente, devastada emocionalmente, sem esperanças, em frangalhos – as forças positivas da Vida estão agindo, e apenas esperando a situação mais adequada para se manifestarem e transformar por inteiro aquela existência, ausente da Graça.

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