Profissão
de Fé.
Pego-me as vezes
pensando como uma pessoa é capaz de suportar tantas dores dentro do si!
Ouvimos histórias de
vida tão devastadoramente dramáticas – mesmo com já alguma experiência clínica em nosso ofício de psicoterapeutas – que diante
das quais fico com uma sensação de impotência tão grande que, insistentemente, me
pergunto como aquela pessoa conseguiu chegar até aqui e estar, neste exato
momento, contando-me sua história de vida e relatando seu infinito sofrimento,
sentada à minha frente!
Muitos quebraram, sem
dúvida. São os que culminaram sua história dolorosa de vida com o evento
trágico e equivocado do suicídio.
São esses os pacientes
com quem trabalho. Como, de alguma forma, posso escolher meus próprios
pacientes, esses são quase sempre os sobreviventes de traumáticas tentativas de
suicídios que não se realizaram ou os desejosos de fazê-lo. No mais, pessoas
atormentadas por forças irracionais, estranhas e descontroladas que as dominam.
Entretanto, quando me
coloco ali face a face com essas pessoas, no silêncio palpitante do consultório,
ouvindo as palavras dolorosamente cálidas que são pronunciadas, o drama de uma
alma revelado, numa relação eu-tu que se estabelece entre dois frágeis seres
humanos, uma crença fundamental vai me tomando e passa a envolver todo meu
trabalho. Uma crença que dia a dia vem crescendo, sem dúvida que, em parte,
baseada nos meus estudos acadêmicos e experiência clínica, mas que vai muito
além disso: a crença de que – desde o mais
íntimo daquela pessoa que ali se apresenta colocada a minha frente, devastada
emocionalmente, sem esperanças, em frangalhos – as forças positivas da
Vida estão agindo, e apenas esperando a situação mais adequada para se
manifestarem e transformar por inteiro aquela existência, ausente da Graça.
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