quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Deixa eu te explicar uma coisa sobre Depressão

 


Eu conheci a mulher que viria a ser minha esposa alguns meses após ela ter feito uma tentativa de suicídio e ter passado alguns dias no hospital pra se recuperar. Pra fazer as suturas no corpo. Quanto as da alma... 

Seu diagnóstico, de acordo com o CID 10 era o que hoje se chama de Transtorno Depressivo Recorrente.

Nunca mais, em todos esses anos de casamento e da peregrinação por  psiquiatras, psicólogos, e da rotina de medicamentos, ela fez outra tentativa. Mas a vontade... Quem tem tendências ao suicídio sabe do que eu estou falando. Porque a vontade...

Eu estive ao lado dela em todos os seus episódios. Uma vez, no meio de uma das crises brabas de depressão, ela me disse que o que a impedia de se matar não era o amor que sentia por mim e por nossos filhos, amor que ela também sabia que temos por ela, mas o medo de que o inferno que pudesse encontrar do lado de lá fosse muito pior do que o do lado de cá. Eu sei bem que não era ela que dizia essas coisas, mas sim a Depressão: distorcendo cruelmente seus pensamentos, seus sentimentos e a sua vontade. 

 

Agora descobrimos que ela tem um câncer.

Não vou falar sobre o impacto que está causando pra ela, pra mim, pra família, pros amigos o que é ter uma pessoa amada sofrendo de câncer. Só quem tem ou tem alguém querido com essa doença pode saber do que eu tô falando.

Porém, eu a tenho observado. Em nenhum momento eu a vi dizer que quer morrer por causa do câncer. Não, ela que continuar vivendo!

As seguidas sessões de quimioterapia fizeram seus cabelos caírem e ela, apesar de continuar linda, está carequinha, está muito magra, o abdome dilatado. Mas ela que continuar viva!

Tem uma batalha longa e difícil pela frente a ser travada contra essa doença. Mas ela que continuar viva.

Ela quer continuar viva!


Então. Você está entendendo do que eu estou falando?

Entende aonde eu quero chegar?

Entende o quanto é séria e grave essa doença chamada DEPRESSÃO?

Verdadeiramente somos solidários, nos sensibilizamos, nos compadecemos e procuramos, no mínimo, enviar energias positivas para alguém diagnosticado com câncer. Eu venho observando as reações quando recebem a notícia do câncer da minha esposa.

Mas para alguém diagnosticado com Depressão a maioria diz ainda que é frescura, que é pra chamar a atenção, falta de Deus, falta de serviço, falta de força de vontade, falta...?

Entendeu?

domingo, 30 de agosto de 2020

Ore! Faz bem!

 


 Em primeiro lugar façamos uma distinção entre religião e espiritualidade. E a foto abaixo pode nos ajudar nesse esforço: 

Entenda que a oração não é propriedade de qualquer religião, mas uma prática que expressa um movimento interno, subjetivo de ligação do eu pessoal a uma condição mais ampla e profunda que podemos denominar de Transpessoalidade. Dessa forma, é sim possível vivenciar a oração quando você possui uma religião ou sem ter necessariamente ou seguir uma religião. Essa distinção conceitual permite observar o fenômeno da oração de uma forma mais precisa.

 E o que é essa Transpessoalidade? Para muitos, seguidores de uma religião organizada, ela é nomeada de diversos modos. Mas não é isso o que mais importa. Do ponto de vista do bem estar emocional e da saúde psicológica, o que verdadeiramente importa são os resultados dessa prática. 

E quais são os resultados dessa prática: orar? 

Vamos começar essa resposta fazendo uma analogia com os exercícios físicos. Hoje já está claramente evidenciado os benefícios de uma prática regular de exercícios físicos para a saúde mental. Exercícios, seja em contato com a natureza, andando ou correndo nas ruas ou em parques, ou frequentando academias, são formas eficazes de atenuar os efeitos de transtornos, por exemplo, como a depressão e a ansiedade. São inúmeros os estudos comprovando os efeitos positivos dos exercícios sobre a química cerebral e, consequentemente, sobre as emoções e a saúde mental. 

Então, os avanços realizados no campo das técnicas de captação de imagens cerebrais, pela Ressonância Magnética Funcional e Tomografias Computadorizadas com capacidades de análise do fluxo sanguíneo, estão permitindo visualizar e melhor compreender as alterações da atividade funcional e metabólica do cérebro e como o corpo físico responde prontamente aos comandos cerebrais ao ter ativado circuitos neuroquímicos e neuroimunológicos, no momento da oração.

Compreende? Uma cascata de reações bioquímicas é ativada a partir da prática da oração, desencadeando uma série de reações fisiológicas cerebrais e que, lá na ponta, vão proporcionar equilíbrio emocional e bem- estar. A prática da oração tem um impacto positivo na saúde mental e os correlatos neurobiológicos produzidos durante a oração indicam um papel benéfico.

 Portanto, em resumo, a partir das revisões de literatura sobre os benefícios da meditação e da oração, podemos, seguramente, dizer que a oração: 

• Diminui a tensão muscular.

• Melhora as funções neuroimunológicos e cardiovasculares.

• Gera tranquilidade emocional.

• Melhora o enfrentamento das doenças.

• Propicia a diminuição dos sintomas de transtornos psíquicos.

• Melhora o funcionamento orgânico.

 

Por isso e concluindo, ore, faz bem!

 

 

terça-feira, 18 de agosto de 2020

Se você toma remédios para transtornos mentais, não se sinta envergonhado ou fraco

 

Se você toma medicamentos psiquiátricos - ou deseja - estas palavras escritas por uma querida amiga minha, Mary Elizabeth, podem ajudá-lo: 

Sinto-me compelido a dizer isso. Se você toma remédios para transtornos mentais para ajudá-lo a permanecer vivo, ou tão importante quanto, para passar da sobrevivência à uma vida ativa de realizações, não se sinta envergonhado ou fraco.

Você não escolheu ter um transtorno mental mais do que alguém escolhe ter epilepsia, por exemplo. Não pare de tomar seus remédios só porque ouviu dizer que uma grande indústria farmacêutica tem uma conspiração para medicar todo mundo. 

Se seus remédios o ajudarem, tome-os. 

Se você piorar por não tomá-los, tome-os. 

Se você é uma pessoa religiosa, tomar remédios não se contrapõe a uma fé que afirma que Deus pode te ajudar, e ter uma fé também não se contrapõe a tomar remédios. São ferramentas para serem usadas em conjunto, uma não elimina a outra. Assim como comer bem e fazer exercícios.

 Os remédios por si só às vezes não são suficientes para me manter bem. Na maioria das vezes, meus remédios agem como uma escada para que eu possa acessar outras ferramentas, que uso em conjunto com a medicação.

 A medicação não é ruim. Atitudes como essa perpetuam o preconceito relacionado com a doença mental. Aqueles que têm transtornos mentais geralmente aceitam o preconceito tanto quanto aqueles que não têm.

 Pare com isso.

 Pare de se envergonhar.

 Pare de envergonhar os outros.

 A medicação não é algo de que se envergonhar.

E só porque você se sente melhor com os remédios, não significa que está pronto para abandoná-los. O oposto é verdadeiro. Você se sente melhor porque está tomando-os.

Eu entendo o desejo de tomar o mínimo de remédio necessário para ficar bem, mas isso não significa que nenhum remédio seja a resposta. Eu não posso te dizer quantas vezes eu já percorri esse caminho, querendo sair dos remédios porque eu não queria precisar deles. Mas com a idade vem a sabedoria.

Eu escolho sofrer o mínimo possível nesta vida. Eu escolho prosperar nesta vida. Se isso requer medicação para tratar uma condição que não escolhi ter, agradeço todos os dias por viver em uma época e um lugar onde existem tratamentos sólidos que funcionam.

Este texto foi devido a um querido amigo que sentiu que não precisava de medicação para sua psicose e quase o perdemos ontem. 

Se não tomar remédios te deixa menos seguro, menos feliz, menos realizado, então tome seus remédios.



 


Se você ou alguém que você conhece precisa de ajuda, ligue para o número do CVV: 188 e procure ajuda especializada de um psicólogo ou psiquiatra.




Tradução livre e adaptada


sábado, 15 de agosto de 2020

Um quarto de jovens adultos pensou em suicídio durante a pandemia

 


Mais da metade dos entrevistados que se identificaram como trabalhadores essenciais relataram algum tipo de condição de saúde mental ou comportamental adversa relacionada à emergência da Covid-19.

 Um em cada quatro jovens adultos com idades entre 18 e 24 anos diz que considerou o suicídio no mês passado por causa da pandemia, de acordo com novos dados do CDC,  que pintam um quadro sombrio da saúde mental do país durante a crise.

 Os dados também indicam uma onda de ansiedade e abuso de substâncias, com mais de 40 por cento dos entrevistados dizendo que experimentaram um problema de saúde mental ou comportamental relacionado à emergência Covid-19. O estudo é do CDC ( CENTERS FOR DISEASE CONTROL) que analisou 5.412 respondentes da pesquisa entre 24 e 30 de junho.

 Esse problema está recaindo mais pesadamente sobre os jovens adultos, cuidadores, trabalhadores essenciais e minorias. Enquanto 10,7% dos entrevistados em geral relataram considerar o suicídio nos 30 dias anteriores, 25,5% das pessoas entre 18 e 24 anos relataram fazê-lo. Quase 31 por cento dos cuidadores não remunerados autodeclarados e 22 por cento dos trabalhadores essenciais também disseram que nutriram tais pensamentos. Os entrevistados hispânicos e negros também estavam bem acima da média.

Cerca de 30,9 por cento dos entrevistados disseram ter sintomas de ansiedade ou depressão. Cerca de 26,3 entrevistados relataram trauma e transtorno relacionado ao estresse por causa da pandemia.

 Outros 13,3 por cento dos entrevistados disseram que recorreram ao uso de substâncias, incluindo álcool e medicamentos prescritos ou ilícitos, para lidar com o estresse da pandemia.

 Mais da metade dos entrevistados que se identificaram como trabalhadores essenciais relataram algum tipo de condição de saúde mental ou comportamental adversa relacionada à emergência da Covid-19.

 Os estados e o governo federal têm alguns dados que mostram um aumento nas mortes por overdose de drogas nos primeiros meses do ano, em meio a bloqueios, incertezas econômicas e estresse adicional causado pela pandemia.

 O que vem a seguir: os pesquisadores, no estudo, recomendaram que qualquer intervenção em nível comunitário e esforços de prevenção incluam o fortalecimento dos apoios econômicos para reduzir o estresse financeiro e lidar com as disparidades raciais nos cuidados de saúde. Eles também sugerem expandir o acesso a apoios sociais, tratamentos abrangentes e serviços de redução de danos.

 


Se você ou alguém que você conhece está lutando com as questões abordadas neste texto, por favor, procure a ajuda profissional de um psicólogo ou psiquiatra e ligue para o número do CVV: 188.


 Texto original: CDC: One quarter of young adults contemplated suicide during pandemic /   By BRIANNA EHLEY: https://www.politico.com/news/2020/08/13/cdc-mental-health-pandemic-394832?fbclid=IwAR21CpUe0enV3NgtuDx6QOjlN3s47kLiJ_Ejky4yfqZXJARt01E8Fr3EOOc

segunda-feira, 20 de abril de 2020

Por que os suicídios estão diminuindo durante a pandemia de coronavírus?



Um quarto da população mundial permanece em casa devido a uma pandemia causada por um coronavírus, que já causou mais de 150.000 mortes em três meses. Um drama de dimensões que a humanidade não enfrentava há décadas. A magnitude do problema é tal que muitos dos nossos problemas anteriores tornaram-se menores e sem importância. E isso, que ocorre no nível social, também ocorre no nível individual e, segundo especialistas, tem impacto direto nos suicídios: os suicídios diminuíram.
Javier Jiménez, psicólogo clínico da Associação de Pesquisa, Prevenção e Intervenção do Suicídio (na Espanha) garante que todos os psicólogos e especialistas em urgências, emergências e catástrofes estão convencidos de que os suicídios diminuíram nesses três meses, embora também reconheçam que, assim que essa situação acabar, eles vão subir novamente. Segundo esse especialista - com as informações que ele gerencia dos institutos de medicina legal que consulta e as informações de sua organização - os casos registrados apontam sim para uma diminuição:
 “Na Associação, toda semana temos três, quatro ou cinco casos de pessoas que nos comunicam da Espanha ou mesmo do exterior, nos dizendo que alguém próximo cometeu suicídio ou tentou. Agora temos uma ou nenhuma ligação por semana, nem de ideação suicida [pensamentos suicidas], nem de intenção, nem de suicídio consumado”.
Embora esses dados se refiram à sua experiência e à de seus colegas, ainda não se tem pesquisas evidenciando esse fenômeno. Para falar sobre os dados completos sobre suicídio durante esse período de pandemia, será preciso esperar anos para que o INE os publique.
Esse psicólogo que monitora os suicídios que ocorrem no mundo garante que, em relação direta com coronavírus, houve 8 em todo o mundo. Dois deles na Espanha, duas pessoas que cometeram suicídio em hospitais quando diagnosticadas com coronavírus. "Para essas pessoas, provavelmente, foi a gota que encheu o copo, porque não conhecemos a situação anterior delas, então não podemos fazer uma relação de causa e efeito. O coronavírus seria mais um fator nesses suicídios, não a causa determinante.”
EFEITO DE GUERRA
E qual a explicação, ainda que provisória, para esse diminuição de suicídios? "Agora que estamos comparando essa situação a uma guerra, é exatamente isso que acontece durante um período de guerra: os suicídios diminuem significativamente", explica o psicólogo. O motivo é que as prioridades da vida mudam: “Quem realmente se importa agora se você comprou o iPhone mais recente ou os sapatos de uma marca famosa? Agora, o importante são álcool gel, máscaras, comida...  e ninguém está louco pra sair de casa e comprar o último modelo de iPhone”.
É claro que as causas são bem mais complexas, porém "alguns problemas de pessoas que não sabem muito bem por que alimentavam tantos conflitos, quando são confrontadas com uma ameaça concreta muito maior, percebem que o que estava acontecendo com elas não era assim tão sério. Assim, essa situação pode até favorecer mudanças positivas pra algumas pessoas."
Entretanto, como nas guerras, o medo dos especialistas está no que vem a seguir, com o fim do confinamento.
PROBLEMAS FAMILIARES
Mais graves, nesse momento, têm se mostrado os problemas familiares. José Luis Perrinó, presidente do Telefone da Esperança de Madri (Tlf.717100371), garante que, em seu serviço, as ligações relacionadas a problemas de solidão aumentaram, mas eles também não perceberam um aumento nas ligações de pessoas com pensamentos suicidas. “Tivemos um aumento de 20% no número de ligações e, nesse momento, prevalecem as questões relacionadas à solidão, a ansiedade sobre o confinamento e os problemas entre casais e filhos”, explica ele.
Jiménez lembra que depois das férias é a época do ano em que ocorrem mais divórcios, após uma convivência mais próxima. "Mas o que está acontecendo nesse período de confinamento é mais intenso, é um teste decisivo para casais.  Essa experiência não é como férias, agora você está preso em casa, fazendo comida, não em um hotel com restaurante, com problemas no trabalho e sem poder escapar " A experiência chinesa de confinamento parece dar razão a esse psicólogo, já que em Wuhan os pedidos de divórcio explodiram após meses de confinamento.
Quando o confinamento terminar é quando tudo vai explodir ", diz o psicólogo.

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 Texto livremente traduzido e adaptado




quarta-feira, 1 de abril de 2020

GUIA para superar o impacto emocional do coronavírus


                       

O coronavírus nesse momento é uma grande ameaça a todos nós. Somos confrontados com emoções desconfortáveis, somos dominados pelo medo, ficamos chocados ao ouvirmos os profissionais de saúde relatando as situações que estão enfrentando, e não parece que as coisas vão melhorar num curto prazo. No entanto, há uma verdade inquestionável: tudo passa. E essa pandemia também vai passar, exatamente como aconteceu com outras pandemias. Por isso, precisamos enfrentar esse problema com uma mentalidade positiva e, para isso, precisamos conhecer mais sobre as fases e as emoções que vamos enfrentar. Reconhecer as emoções que inevitavelmente já surgem ou surgirão nos ajudará a enfrentar essa situação de maneira mais realista e tranquila. Desenvolver uma mentalidade positiva, apesar das circunstâncias. Tal atitude nos permitirá entender que em qualquer mudança, por mais difícil que seja, sempre há oportunidades para continuar aprendendo e avançando como indivíduos e como sociedade.
Este GUIA nos servirá como um roteiro indicando quais que as emoções que passaremos a vivenciar nesse momento:

1.     RECONHECIMENTO DO PROBLEMA
"Existe um vírus na China". Esse foi o começo. Todo grande desafio que acontece em nossa vida pode ser resumido em dois tipos, como a medicina tradicional chinesa diz: desafio do céu, quando é algo desejado, ou desafio do trovão, quando não o procuramos e ao se impor quase sempre arrebenta com nossos planos. Para a grande maioria o coronavírus é um desafio que pertence ao trovão. Poucos esperavam que isso acontecesse.

2.     NEGAÇÃO:
"Isso não vai acontecer aqui." A negação é uma fase comum em quase todos os acontecimentos não desejados. É muito difícil mesmo pra gente assimilar. Nesse caso do coronavírus, nunca acreditamos que iria nos afetar. Nos enchemos de desculpas, como a de que a China estava longe ou de ser apenas mais uma gripe, e esquecemos as evidências: que o mundo é globalizado, inclusive para as doenças e que elas podem ser tão contagiosas a ponto de desorganizar e até mesmo colapsar a própria sociedade como um todo. Durante a fase de negação e quando percebemos o quanto essa situação já nos afeta e pode afetar muito mais, quase sempre passamos a sentir muita raiva. Ficamos furiosos com o sistema, com a falta de medidas tomadas pelas autoridades, com manifestações ou reuniões que amplifiquem o contágio; raiva de pessoas ou grupos que não enxergam a gravidade do momento. A raiva deve ser experimentada, sim, mas também superada. Se permanecermos nessa fase, estaremos perdidos, porque perderemos a oportunidade de aprendizado que existe diante de qualquer crise.

3.     MEDO
“O que vai acontecer comigo, com meus familiares, sobretudo os que estão nos grupos de risco? E a população mais pobre, mais desprotegida? E os resultados econômicos de tudo isso, afetará o meu emprego? O que vai acontecer? Medo, preocupação: essa é a emoção mais profunda e incapacitante que existe. Existe um medo saudável, que é a prudência, que nos obriga a nos proteger e a ficar em casa. E há outro medo tóxico, que nos leva à histeria coletiva, às compras compulsivas ou a não dormir à noite. O medo é outra fase pela qual temos que passar rapidamente. É inútil se deixar levar por essa emoção, que em muitas ocasiões se torna mais contagiosa do que a própria doença. O medo nos causa um profundo dano emocional e paralisa nossa capacidade de enfrentar a crise com realismo e força e com um senso positivo de que tudo isso vai passar.

4.     ATRAVESSANDO O DESERTO
"Estou triste e vulnerável”. Não há mais medo ou raiva, nessa fase o que mais sinto é angústia e tristeza em sua forma mais pura. Estamos abatidos pelo número de doentes e mortos, conhecemos algumas vítimas ou a vítima sou eu mesmo. Essa é uma fase de pura aceitação da realidade. Tomamos consciência de que não está em nossas mãos um completo e absoluto controle da situação. NA CRISE DO CORONAVÍRUS, A JORNADA PELO DESERTO DEVE SER REALISTICAMENTE ENCARADA. A mentalidade positiva que precisamos desenvolver, sem encarar o deserto é falsa e temporária. A boa notícia é que os desertos também são atravessados.

5.     NOVA ATITUDE E CONFIANÇA.
Uma vez que a realidade é compreendida e assimilada, uma nova atitude e uma sensação de autoconfiança começam a nascer. Aceitamos a realidade. Se estamos isolados, encontramos os aspectos positivos dessa situação. Nós nos oferecemos para ajudar os outros por serena solidariedade e não por medo. Embora conscientes da gravidade, somos capazes de brincar e rir da situação e, mais importante, nos abrimos para o aprendizado. Quanto mais procurarmos enxergar o que essa nova crise pode nos ensinar, mais rápido podemos atravessar a curva da mudança.

6.     FIM DA AVENTURA
O coronavírus passou e eu saí dessa situação mais forte. Essa crise entrará para a História, sem dúvida. Outras virão, virão novos problemas, e isso significa que estamos vivos. Se conhecemos o processo e aprendemos como indivíduos e como sociedade, valerá a pena, apesar das muitas perdas que tivermos ao longo do caminho.

Veja bem. As fases descritas não são lineares, mas são progressivas. Ou seja, podemos estar na travessia do deserto e recair às vezes sentindo raiva ou muito medo. Podemos aceitar a realidade adquirindo confiança de que essa crise vai passar e voltar a sentir uma profunda tristeza por tudo o que está acontecendo. Podemos rir de um meme engraçado na internet sobre a situação e daqui a pouco sentir muito medo de perder alguém que amamos. É o que quase sempre acontece, mas você não precisa se sentir culpado por isso. Quanto mais consciência tivermos e mais sincero formos, mais rápido podemos passar por cada fase e mais capacidade teremos de despertar os valores e as potencialidades positivas que cada um carrega dentro de si.



RECONHECIMENTO DO PROBLEMA: "Existe um novo vírus na China”
NEGAÇÃO: "Isso não vai acontecer aqui."
RAIVA: “Por que não tomaram providências antes?”
MEDO: “O que vai nos acontecer? “Eu conheço pessoas próximas com coronavírus!” “E se eu ficar doente e não tiver assistência?
     ATRAVESSANDO O DESERTO:  "Estou triste e vulnerável”
NOVA ATITUDE E CONFIANÇA: “Cuido de mim e me protejo” “Enxergo a oportunidade de aprendizado” “Ajudo os outros” “Apoio-me também no bom humor” “Confio”
O CORONAVÍRUS PASSOU: “Aprendi com essa experiência e estou mais forte”



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 Texto livremente traduzido e adaptado

domingo, 26 de janeiro de 2020

Por que o país do samba e da alegria é o campeão latino-americano em suicídios?


Ele tinha 23 anos e uma carreira consolidada como rapper. Mesmo assim, ele decidiu tirar a vida ao vivo, durante uma transmissão em streaming em suas redes sociais e na frente de seus 11.000 seguidores. Aconteceu no dia 15 de dezembro em São Paulo, capital econômica e cultural do Brasil. MC Mineiro escreveu poemas sobre morte e tristeza e em uma de suas publicações ele disse: "Você vai esperar que eu morra para me amar?"

No Brasil, cerca de 13.500 pessoas cometem suicídio a cada ano. A grande maioria são homens (cerca de 10.000). Entre 2010 e 2016, a taxa de suicídios aumentou 7% no país tropical, atingindo 6,1 casos por 100.000 habitantes. Esses dados contrastam com a tendência global, que acumula queda de 9,8%, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Esses índices revelam que todos os anos cerca de 800.000 pessoas causam sua própria morte, o que equivale a um suicídio a cada 40 segundos.
"O número de suicídios aumentou e o crescimento mais consistente foi registrado entre os jovens, algo considerado uma tendência mundial. A desigualdade social pode ser um fator importante. Hoje não podemos apenas olhar para a depressão. Vários estudos internacionais sugerem que as questões sociais podem ter um impacto 40% maior no número de suicídios do que os transtornos mentais ”, diz Karen Scavacini, psicóloga e fundadora do Instituto Vita Alere de Prevenção e Prevenção de Suicídio, com sede em São Paulo.
O país do carnaval, famoso por suas festas intermináveis ​​e pela alegria de seu povo, morre de tristeza e depressão, com 12 milhões de casos diagnosticados. Ele lidera as estatísticas da América Latina sobre suicídios e ocupa o oitavo lugar no mundo, de acordo com dados da OMS relativos a 2014, que foram divulgados dois anos depois e ainda são citados por especialistas.
O Brasil passou de 35 para 8 no ranking mundial de suicídios em alguns anos
O que aconteceu com o Brasil em poucos anos, passando do 35º ao 8º lugar no ranking mundial? Estudos de instituições nacionais e internacionais de prestígio apontam para vários fatores: exclusão social, racismo institucional, crescente isolamento, discriminação, especialmente nos casos do coletivo LGBTI, crise econômica e insegurança no emprego. No entanto, o problema é muito mais complexo, diz a psicóloga Ana Maria Feijoo. Essa professora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) dirige um programa de prevenção ao suicídio, que oferece atendimento clínico direto e especializado a pessoas que estão prestes a tirar suas vidas.
"A região do Brasil onde há mais suicídios é o sul, especificamente o Rio Grande do Sul e Santa Catarina. São dois estados majoritariamente brancos, com forte descendência alemã, maior distribuição de renda e menor presença de favelas. Geralmente, relacionamos o suicídio a questões de raça, pressão social ou exigência escolar, mas a realidade é que o suicídio ocorre em todas as classes sociais e em todos os níveis culturais. Portanto, é muito difícil estabelecer as causas e entender o fenômeno completamente ”, explica ela.
Uso excessivo de antidepressivos
uso excessivo de antidepressivos, especialmente entre os mais jovens, pode ser uma explicação para esse aumento gradual, mas constante, dos suicídios. Um estudo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) revela que, entre 2006 e 2015, a taxa de suicídios aumentou 24% entre os adolescentes que moram nas grandes cidades brasileiras, enquanto caem no resto do mundo. O mesmo relatório mostra que os meninos têm três vezes mais riscos de se matar do que as meninas. "Há jovens que atendo que dizem: 'Por que tenho que permanecer vivo? É muito chato viver, é ruim, é triste'", diz Karen Scavacini .
"A sociedade, o desempenho e a expectativa de sucesso exigem das pessoas, especialmente as crianças que estão na fase pré-adolescente e os adolescentes, muito mais do que possam dar. A automutilação e o suicídio aparecem como um caminho". Muitos entram em uma experiência que a psiquiatria, fora do interesse e do poder do mercado, diagnostica como depressão. Por isso, acabam produzindo uma depressão real, medicada com antidepressivos. A relação desses medicamentos com o suicídio precisa ser investigada " , alerta o psiquiatra, Paulo Amarante, uma das principais referências em saúde mental no Brasil.
Indústria farmacêutica maciça
Paradoxalmente, a mesma indústria farmacêutica que tenta impedir o suicídio poderia encorajá-lo com os produtos químicos que injeta maciçamente no mercado. "Eu estudei bastante esse assunto, porque geralmente se afirma que a maioria dos suicídios é registrada entre as pessoas diagnosticadas com depressão, mas essa estatística também não é confirmada. Entre as pessoas sem diagnóstico, a porcentagem é semelhante. A relação entre antidepressivos e o aumento do suicídio precisa ser estudado ", insiste a psicóloga Ana Maria Feijoó.
Os suicídios cada vez mais frequentes entre policiais, sem dúvida, representam uma peculiaridade no Brasil, que tem as forças de segurança que mais matam e mais morrem no mundo. Somente em 2018, 104 policiais brasileiros deram fim a suas vidas, excedendo o número de policiais mortos durante o horário de trabalho (87). A violência à qual os agentes estão permanentemente expostos causa sérios danos psicológicos.
"O número de suicídios aumentou porque a pressão que sofremos é muito grande. Não temos condições dignas de salário ou material bélico. Nossos turnos de trabalho são muito apertados e os agentes têm pouco tempo para descansar, ficar com a família e relaxar. Muitos policiais sofrem atentados a caminho do trabalho. O número de agentes assassinados cresceu muito, então o que pensamos é: 'Quando será a minha vez?' "diz Flavia Louzada, sargento da Polícia Militar do Rio de Janeiro.
Polícia SOS
"O outro problema é que a corporação no Rio de Janeiro tem apenas três psiquiatras. Ou seja, não há condições de tratar os policiais que começam a apresentar transtornos psiquiátricos. Então o agente, com seu salário baixo, é obrigado a pagar para um psiquiatra em particular, se ele quiser ser tratado. Tudo isso significa que os policiais ficam doentes. Sem esquecer que, por si só, os policiais têm alguma resistência a serem tratados por psiquiatras, especialmente homens ", acrescenta Louzada.
Nilton da Silva, tenente da Polícia Militar e fundador de uma associação chamada Polícia SOS, também aponta as condições de trabalho como a principal causa. “Os suicídios são causados ​​pelo estresse. Os agentes têm turnos muito exaustivos e são forçados a realizar outros trabalhos no campo da segurança para aumentar o salário. Muitos policiais trabalham horas extras dentro e fora da corporação e esse esforço compromete seu lado psicológico. Muitos desses problemas seriam resolvidos com um salário justo ”, enfatiza.
Deve-se notar também que homossexuais e transexuais têm uma maior tendência ao suicídio.
"Mas, novamente, é difícil estabelecer se é devido à insatisfação com seu corpo ou à discriminação e até hostilidade que eles sofrem. Temos um grupo de estudo na Uerj dedicado a esse grupo e detectamos que muitos transexuais continuam insatisfeitos após a operação, porque eles não têm o corpo que queriam ", diz a psicóloga Ana Maria Feijoo.
O Brasil, onde a cada 19 horas uma pessoa LGBTI é morta, lidera o ranking latino-americano de violência contra esse grupo. "Quanto mais preconceitos existem contra LGBTIs, mais casos de suicídio são registrados", diz Karen Scavacini.
A situação no Brasil é ainda mais preocupante se considerarmos que os dados não são confiáveis. Quase nunca o suicídio é indicado como causa no atestado de óbito, devido à relutância das famílias em serem estigmatizadas. "Nos nossos grupos de luto, por exemplo, de cada 10 membros da família que assistem, apenas um ou dois têm suicídio como causa de morte no atestado", lembra Scavacini.
Apesar desses dados, os especialistas entrevistados por este jornal acreditam que o futuro pode ser animador devido a vários fatores. Em 2019, foi aprovada a Lei de Prevenção ao Suicídio, que instituiu um Plano Nacional para evitar mortes autoinfligidas. Além disso, em dezembro foi aprovada outra lei que qualifica como crime a instigação de suicídio e automutilação. "Esses fatores mostram que o Brasil começa a ver o suicídio como um problema de saúde pública e a tratá-lo sob a forma de lei. Esses são avanços importantes", diz Scavacini.
Para Feijoo, campanhas nacionais como 'Janeiro Branco' e 'Setembro Amarelo' também são essenciais para aumentar a conscientização do público sobre problemas relacionados à saúde mental. “Graças a eles, as pessoas têm coragem de procurar serviços públicos de saúde e admitem que estão pensando em cometer suicídio. Quanto mais oportunidades para verbalizar e ouvir essas pessoas, mais possibilidades temos de prevenção. Acho que em alguns anos as taxas de suicídio poderão cair significativamente se continuarmos prestando atenção a essas questões ”, prevê.


Se você ou alguém que você conhece está lutando com as questões abordadas neste texto, por favor, procure a ajuda profissional de um psicólogo ou psiquiatra e ligue para o número do CVV: 188.


Texto original: ¿Por qué el país de la samba y la alegría es el campeón latinoamericano en suicidios? https://www.elconfidencial.com/mundo/2020-01-15/brasil-suicidio-samba-alegria_2404500/?fbclid=IwAR3TWhxemzZLJ3PPPmWyxQWeGyb638lpUA0yJVg5fDzK9ZCYVtm2ptEhzRQ