sábado, 19 de agosto de 2017

Quais perguntas fazer a alguém que se sinta suicida?


Quando uma pessoa querida, um familiar ou amigo, está pensando em suicídio, às vezes pode ser difícil saber o que fazer ou dizer diante dessa situação.
Talvez um colega de trabalho lhe tenha expressado, de passagem, sentir que ninguém notaria se ele desaparecesse para sempre. Talvez um membro da família tenha manifestado que o melhor seria se ele pudesse dormir e nunca mais acordar. Ou talvez um amigo tenha contado a você sobre um plano concreto para acabar com a própria vida. Seja qual for a situação, esse tipo de conversa é séria e não deve ser ignorada.
Queríamos saber quais perguntas fazer a alguém que se sinta suicida, então pedimos aos membros do nossa comunidade de saúde mental para compartilhar uma pergunta que eles desejaram que lhes tivessem sido feitas quando se sentiram suicidas. É importante lembrar que cada pessoa que experimenta pensamentos suicidas tem sua própria necessidade. As perguntas podem ser um excelente ponto de partida, mas não deve ser a única medida para conseguir uma aproximação. A atitude que deve seguir a estas perguntas é que pode realmente ajudar as pessoas a se sentirem compreendidas e amadas.
Eis o que eles tinham a dizer:
1. “Você quer sair? Muitas vezes, em meus piores momentos, sempre me senti isolada e sozinha. Foi a partir deste ano que as pessoas realmente começaram a perceber e passaram a me convidar quando eu começava a me sentir isolada. "- Kira M.
2. “Posso me deitar aqui com você? Não precisava de mais conversa. Minha cabeça já estava cheia o suficiente. Eu precisava era de um abraço para saber que sim, eu existia para alguém. "- Michelle M.
3. “Qual é a pior coisa que você está pensando ou sentindo agora? Quando me sinto muito mal, vejo-me obrigada a esconder o que sinto das pessoas. Seria um alívio saber que eu posso conversar e falar abertamente sobre isso com alguém. "- Elizabeth M.
4. "Eu queria que alguém me perguntasse o que estava acontecendo ou como eles poderiam ajudar. Eu queria que alguém me ouvisse. No meio em que vivo as pessoas não dão a mínima atenção se o assunto não for conveniente para elas. É triste, tentei falar com alguns amigos sobre suicídio, mas eles empurraram o assunto para debaixo do tapete. "-Ashley M.
5. "Eu queria que eles simplesmente me perguntassem se eu pensava em suicídio. Sempre me fazem pergunta tipo: “Como você está”?" 'Você está bem?' "Algum mau pensamento?" "Você está tendo um dia bom ou ruim?" E tantas outras perguntas que parecem evitar a palavra " suicídio ". Quando essas pessoas evitam dizer a palavra suicídio ou se constrangem em perguntar se estou me sentindo suicida, penso logo que não querem saber como estou realmente me sentindo. "- Makayla F.
6. “Posso segurar sua mão esta noite? Eu acho que é importante poder sentar-se com alguém que é suicida e, não, procurar colocar um band-aid... Apenas sente-se sem julgamento e deixe a pessoa sentir que há alguém de verdade ao seu lado. "- Gyna R.
7. “Como posso ajudar? E se eu não sei o que dizer, porque, realmente, quando me sinto assim eu não sei como ser ajudada, apenas esteja lá. "- Jessi W.
8. “Por quê? Uma pergunta simples que nunca me fizeram de uma maneira sincera. Sem julgamento, sem nenhuma tentativa distorcida de fazer com que meus problemas pareçam menos importantes do que eu sinto que são. Perguntar por que com a verdadeira intenção de entender. Cuidar de mim sem me odiar por meus pensamentos. É o que eu precisaria. O que ainda preciso às vezes. "- Lydia D.
9. “Posso ficar com você? Às vezes, quando eu estou suicida, tudo o que preciso é que alguém esteja ao meu lado, que fisicamente não me deixe sozinha e que eu possa sentir a presença de uma outra pessoa que deseje realmente  que eu permaneça viva. "- Alyse R.
10. “Você está realmente OK? Se alguém tivesse dito isso me olhando dentro dos olhos e estivesse aberto em ouvir tudo o quanto eu gostaria de dizer, teria sentido que alguém se importou de verdade comigo. Ninguém nunca tentou ultrapassar a resposta de sempre: "Sim, estou bem", e eu realmente queria que alguém tivesse. "- Kacey K.
11. “Posso ir / posso ir buscá-la? Eu tenho (um filme / jogo de tabuleiro / jogo de cartas / maquiagem nova / etc e / pipoca / doces / bolo / etc). Seria bom estar com alguém que só queira estar comigo. Não precisa querer me “ajudar” ou “me tirar do fundo do poço”. Apenas esteja lá. Literalmente. Distraia-me. Faça com que me divirta. "- Brianne O.
12. “Você quer ajuda com algumas de suas tarefas? Você pode falar comigo sobre isso? Como você está se sentindo? Você pode me dizer o que está acontecendo para que eu possa entender o que você está passando? Existe alguma coisa que eu possa fazer para apoiá-lo nessa sua luta? Qualquer um destas perguntas seria bem vinda. "- Devin L.
13. “Você quer que eu procure um profissional para você se tratar? Eu nunca falo porque não quero ser um fardo e preocupar as pessoas, mas eu apreciaria se alguém levasse o que sinto a sério e me fizesse essa pergunta. "- Valentina V.
14. “Como posso te ajudar? As pessoas costumam ouvir que eu sou suicida, mas digo que não é nada disso, peço desculpas e desapareço por um tempo até que eu fique "melhor". Eu não precisaria de uma ajuda grandiosa, coisas até bobas - um texto ou uma visita à minha casa quando eu estou ansiosa para ver alguém, que enviem um meme tolo, mas pelo menos me perguntem: “Como eu posso te ajudar”?" Mas eu nunca vou contar a ninguém nada disso. "- Ciara L.
15. "A única coisa que sempre, sempre e sempre preciso ouvir é isso: Eu não vou deixar você. "-  Krystal S.


Se você ou alguém que você conhece está lutando com as questões abordadas neste texto, por favor, procure a ajuda profissional de um psicólogo ou psiquiatra e ligue para o número do CVV: 141.

Texto original: By Juliette Virzi  https://themighty.com/2017/07/questions-to-ask-someone-suicidal-thoughts/ via @TheMightySite.
 Texto livremente traduzido e adaptado.

10 comentários:

  1. Chorei horrores ao ler tudo isso porque eu passo por isso e ninguém nunca diz nada assim pra mim

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    1. É claro que desejamos que as pessoas em torno de nós percebam o que está acontecendo.Deveria ser assim, mas nem sempre é. Então é forçoso que nós mesmos perguntemos, abertamente, se elas não conseguem enxergar um palmo a sua frente e ver o que está acontecendo conosco.

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  2. Sou homem e tenho 45 anos. Perdi meu pai quando tinha 11 anos, perdi minha irmã quando tinha 21 anos e por último perdi minha mãe quando tinha 23 anos. Todos eles faleceram por problemas de saúde. Fiquei sem família. Os outros parentes mais próximos - tios, tias, avós também faleceram ao longo dos anos. Tive algumas namoradas mas nunca me casei. Hoje estou solteiro sem filhos e comecei a ter problemas de saúde desde maio de 2017. No dia do meu aniversário de 45 anos tive que ser hospitalizado. Ninguém veio me visitar.Fiquei muito deprimido ao perceber que se eu ficar doente incapacitado não vai ter ninguém para cuidar de mim.Não tenho amigos na cidade que eu moro e as amizades antigas se perderam com o tempo e a distância. A depressão tomou conta de mim e já tentei tratamento com psicólogo mas no meu caso não deu resultado. Nos 3 últimos meses tenho pesquisado sobre formas de suicídio rápidas e sem dor. Tenho planejado me suicidar com monóxido de carbono. Neste tipo de suicídio não tem sangue e a pessoa não sofre muito antes de morrer. Não tenho parentes vivos e nem amigos próximos então ninguém vai sentir a minha falta. Eu gosto de viver mas sem saúde fica muito difícil continuar. Quando olho para o meu futuro só vejo doença,sofrimento e morte. Decidi que sou eu que vou escolher a data de minha morte. Isso me tranquiliza pois sei que não vou sofrer mais aqui nessa vida. Muito obrigado por este blog e que todos que contribuem aqui sejam felizes e abençoados.

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    1. Sr. Anônimo, espero que essa mensagem chegue a tempo até você, que ainda o encontre. Apenas gostaria de dizer que esse é um canal para pessoas que, como você, se vêem sozinhas. Você está no lugar certo. Sem a intenção de minimizar a sua agonia, há várias pessoas pensando exatamente o mesmo nesse momento, logo, podemos concluir que nenhum de vocês está sozinho. Através de suas palavras noto que és uma pessoa bem instruída, esclarecida e com um bom domínio da escrita. É impressionante como podemos nos surpreender quando compartilhamos aquilo que estamos sentindo e nossas ideias sobre como acabar com nosso sofrimento. Você já deu esse primeiro passo, relatando aqui de forma bem articulada o que está acontecendo. Já pensou em seguir falando sobre isso em um grupo de acolhida onde ali encontrarás pessoas com quem falar e escutar, se ver também no lugar do outro e que o outro se veja no seu e assim, descobrirão juntos uma forma de mudar as perspectivas? A dor compartilhada é mais fácil de ser enfrentada. Por que não se dá essa chance procurando o grupo CVV-GASS? Ali te receberão sem julgamentos, poderás falar abertamente e encontrarás pessoas com quem te identificarás. Farás amigos. Muitos amigos às vezes são tão próximos quanto a família, ou até mais. Peço que antes de tentar a sua decisão, tente essa alternativa, pois no seu relato, você diz que gosta de viver. Permita-se ser ajudado antes de decretar o último suspiro.
      Espero sinceramente que essa mensagem chegue a tempo e faça algum efeito positivo. E igualmente, Sr. Anônimo, que sejas feliz e abençoado.

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    2. Uma paciente minha diagnostica como portadora de um transtorno depressivo maior, em um período muito difícil de crise e de ideação suicida obsessiva, uma vez me falou bem assim:
      “O que me impede de me matar nessas horas não é o amor que sinto pelo meu marido e a minha filha, e que eu sei ser retribuído porque eles me amam muito também. É uma coisa tão louca que nesses momentos o que me impede realmente é a religião. Eu não sei o que vou encontrar. Não sei se o inferno de lá é pior do que o inferno de cá”.
      Tem duas coisas nessa fala. A primeira é que muitas pessoas, geralmente em quadro depressivo grave, não deixam de se matar por terem pessoas que amam e por quem são amadas, ao seu lado. É assim, infelizmente. Você fala de sua extrema solidão, e essa fala me fez pensar nisso. Você me entende? Tem sempre algo mais profundo, muito doloroso sem dúvida, quer estejamos cercados por pessoas amadas ou quando estamos sozinhos – a impulsionar nossa intenção de acabar com a vida.
      E você mesmo reconhece esse algo, quando escreve: “A depressão tomou conta de mim e já tentei tratamento com psicólogo mas no meu caso não deu resultado.” Tudo bem, eu posso até concordar que você tenha tido essa experiência com “um tratamento” com “um psicólogo” e que não deu “um resultado”. Mas isso não significa, necessária e definitivamente, que outros tratamentos, com outros profissionais não dêem outros e mais positivos resultados. Você me entende? Metaforicamente é como se existissem várias outras portas abertas, mas como você se deparou com uma fechada, abdicou de tentar entrar nas outras.
      A Fabíola Peñas te responde fazendo uma proposta de ir ao CVV-GASS. Por que não adiar sua decisão e procurar o da sua cidade, entre outras alternativas de ajuda e tratamento que podem ser procuradas?
      Quanto a segunda coisa na fala da paciente que eu citei, trata-se da dúvida dela sobre a morte. Tem um texto, aqui mesmo no blog, que discorre sobre a dúvida. Tem caráter mais filosófico, mas eu muito apreciaria se o amigo lesse: http://homemcontrasimesmo.blogspot.com.br/2016/07/religiao-suicidio-e-duvida_17.html
      Tenho certeza de que você pode ser feliz e ter uma vida abençoada!

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  3. Prezado Celso, este blog é um dos lugares especiais nos quais encontro textos sensíveis e que nos fazem refletir sobre olhar o sofrimento da pessoa, para além da questão do suicídio ou do diagnóstico. Obrigada por compartilhar, repliquei no meu blog com a devida fonte.
    http://falandosobresuicidio.blogspot.com.br/

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  4. Obrigado Luciana pelas palavras. Conheço o seu blog, que tem um caráter de publicações mais acadêmicas. Eu o visito, de vez em quando.E também o seu trabalho no Vita Alere. Acompanho e admiro o seu trabalho.

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  5. Penso constantemente no suicídio, apesar de acreditar que não tenho coragem para tal ato. O meu verdadeiro desejo é esquecer tudo o que vivi até hoje. Estou com pouco menos de 25 anos de idade, e penso que já passei por tantas situações desafiadoras em minha existência. Desde perdas inseparáveis de pessoas que eu pude amar, confiar e sentir afeto; planos profissionais que fui OBRIGADO a abandonar, contra minha vontade... Todos esses fatores desencadearam uma depressão terrível que já persiste por cerca de 7 anos. Neste período como se não bastasse, descobri uma imunodeficiência que acabou com todas as perspectivas de um futuro.

    A cada dia que passa, sinto-me sem forças. Por mais que eu procure ter esperança de superar tais situações desafiadoras, o desânimo me aflinge.

    A noite é um tormento... Fico no meu quarto, criando fantasmas. Meus amigos e familiares sempre me tiveram como um bom conselheiro, que acolhia e procurava fazer o possível para vê-los felizes, mas não são capazes de perceber minha tristeza e solidão.

    Sempre vejo informações de pessoas que morrem tão jovem, de maneira as vezes tão repentina, e me pergunto, por que não foi eu?

    Sinto-me exausto... Cansado de viver assim...

    Que Deus ou o acaso me ajudem e se encarreguem de me levar a um lugar de descanso e paz. ...

    É assim que eu me sinto... Vazio, triste, solitário, sem esperança.

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    1. Oi Anônimo! De forma nenhuma quero ser conselheiro ou parecer professoral, mas esse é o problema da depressão, não é mesmo? Ela distorce nossos pensamentos e nos faz ver o horizonte de nossa vida sempre escuro, pesado, sem chances e possibilidades. É o que ela faz.

      E faz de um modo tão bem feito, tão profundo, tão devastador de nossa racionalidade, que passamos mesmo a ver nossas vidas com os olhos da depressão.

      Só que não. Definitivamente, a vida não são os olhos da depressão!

      Por isso, por sabermos que quando a saúde mental de uma pessoa melhora o desejo de morrer também desaparece é que insistimos em trabalhar com a prevenção do suicídio. Dessa forma, deixa eu te perguntar, como está seu cuidado e carinho com você mesmo? Você está fazendo acompanhamento médico e psicoterapêutico? Já procurou grupos de apoio?
      Eu sei que o que você sente é real, muito real. E pode ser devastador. Mas é tratável.

      Então, meu amigo?

      Você diz: “Meus amigos e familiares sempre me tiveram como um bom conselheiro, que acolhia e procurava fazer o possível para vê-los felizes, mas não são capazes de perceber minha tristeza e solidão. ” Que tal fazer isso com você? Que tal você mesmo acolher a sua dor, aconselhar-se a si mesmo a procurar ajuda e ir em busca da sua felicidade?

      Um forte e solidário abraço!

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    2. Já me sentir como vc...só que resolvi virar a página de maneira gradativa e hoje posso lhe afirmar que vc consegue. Pq eu consegui!
      Não desista,lute que vc vai vencer

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