Se
perguntarmos às pessoas sobre qual grupo humano pode ser identificado com a
força e a capacidade de enfrentar problemas e superar os obstáculos, certamente
a resposta da maioria seria de que esse grupo corresponde aos homens de meia
idade, com estudos, uma boa situação profissional, que tenham as necessidades
básicas resolvidas e bem situados na vida. Bem, a maioria estará errada, pois esse
é o retrato típico do suicídio em nosso tempo.
As
estatísticas são teimosas e não variam muito de ano para ano ou quando mudam de
país. Com ligeiras variações, o número de homens entre 40 e 60 que tiram suas
próprias vidas é três vezes maior ao das mulheres suicidas. Esses dados nos
obrigam a perguntar qual tipo de problema está levando os homens a uma decisão
que desmonta totalmente essa ideia do “homem, sexo forte".
A
atenção desproporcional e quase exclusiva dada ao feminino nos estudos de
gênero significou que fenômenos como esse, que afetam o homem de maneira
especial, não têm sido suficientemente submetidos à investigação. Só temos
aproximações, mais intuitivas do que com base em dados, que em geral enfatizam
o peso dos papéis masculinos tradicionais: de acordo com essas hipóteses, o
homem deve ser competitivo, buscar sucesso, exibir seus pontos fortes e esconder
as suas fraquezas. O que o torna mais frágil em situações de derrota e
frustração e mais vulneráveis ao estresse e à ansiedade. Acrescente-se a isso
a necessidade de fingir que está sempre bem mesmo quando tudo, emocionalmente,
vai muito mal.
A
compreensão do problema é difícil em vista de outras evidências constantes:
embora os homens se suicidem muito mais do que as mulheres, os pensamentos suicidas
são mais recorrentes nelas (algo não estranho, se levarmos em conta que também
as taxas de doença mental são um pouco maiores nas mulheres). Alguns estudos
acrescentam que mesmo as mulheres fazem mais tentativas do que os homens. Se
assim for, devemos pensar que as diferenças não ocorrem tanto na resposta
dramática às crises pessoais, mas nos métodos para resolver essas crises. Nesse
sentido, as diferentes escolhas de acordo com o sexo mantêm as constantes
clássicas. O homem, infelizmente, escolhe formas mais violentas de suicídio.
Existem,
no entanto, alguns fenômenos tipicamente masculinos que agregam alguma lógica à
essa disparidade no número de suicídios de homens e mulheres. Embora a escassez
de estudos, algumas abordagens do fenômeno enfatizam alguns fatores, por
exemplo a incidência de crises pessoais relativas ao trabalho. A perda de
emprego, para o homem, reforçaria a enfraquecer sua autoestima e a tornar suas
vidas sem significado. Há também indícios de que situações de separação e
divórcio atingem os homens com maior força, às vezes por causa da ruptura em si
mesma e às vezes por causa da perda de filhos, propriedades e relações sociais
e amizades que a acompanham.
O
que parece óbvio é que uma grande parte dos homens enfrentam as situações de
sofrimento em suas vidas com menos ajuda do que as mulheres. Em primeiro lugar,
porque eles não pedem ajuda para as pessoas próximas nem para os especialistas,
uma vez que fazer isso significa para muitos admitir uma fraqueza humilhante.
Supõe-se que o papel masculino implica não só estar no controle das
circunstâncias de sua vida, mas saber disfarçar muito bem quando você não está.
Há casos impressionantes de grupos de amigos muito próximos que são surpreendidos
com o suicídio de um de seus membros, sabendo mais tarde que este carregou durante
anos uma tragédia pessoal sem dar o menor sinal do que realmente sentia.
As
mulheres, por outro lado, estão mais inclinadas a confiar e falar mais abertamente
sobre seus sentimentos e problemas. Assim, as redes de apoio formal ou informal
acabam se movimentando para aquelas que não hesitam em reconhecer-se como
frágeis. Já o homem que precisa de ajuda não acredita que ele precise, ou se
sente envergonhado de pedir, ou quando ele decide fazê-lo, acha que não vai
encontrar profissionais especificamente preparados a intervir no seu problema.
A
fraqueza geralmente se esconde na aparência da força. Talvez seja hora de admitir
que o homem também precise de outro tipo de empoderamento.
Se você ou alguém que você conhece está lutando com as questões abordadas neste texto, por favor, procure a ajuda profissional de um psicólogo ou psiquiatra e ligue para o número do CVV: 188.
Texto original: Un
débil sexo fuerte. José Maria Romera. http://www.diariosur.es/opinion/debil-sexo-fuerte-20171008003441-ntvo.html
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