sábado, 15 de maio de 2021

Eu era Pastor quando quase me suicidei

 

Eu era pastor quando quase me suicidei. Eu tinha 28 anos, estava casado há cinco anos e era um pai orgulhoso de um pequeno bebê. Ninguém suspeitou que isso ia acontecer (geralmente, ninguém suspeita). Eu fui um estudante exemplar, nunca tratei os outros como estranhos e sempre me empenhei em fazer as pessoas ao meu redor se sentirem bem. 

Eu nasci pra ser pastor. Mas o que aconteceu, então?

SE NÃO TEMOS UMA TEOLOGIA QUE ABRACE A DOENÇA MENTAL, NOSSO DEUS É DEMASIADO PEQUENO.” - WILLIAM PAUL YOUNG

Eu fui criado como um bom membro da igreja Batista, e depois me tornei um Pentecostal devoto. Eu já tinha vivido as consequências do suicídio da minha tia 15 anos antes, e tinha ouvido coisas que as pessoas da igreja resmungavam baixinho no funeral dela. Eu ouvi a resposta do pastor à pergunta da minha mãe: “Quando alguém se suicida, vai para o inferno?” Eu vi equipes tentando expulsar demônios quando a depressão foi mencionada em uma chamada no altar. E eu ouvi cristãos bem-intencionados dizerem a essas mesmas pessoas chamadas para apenas “escolherem a alegria”.

Quando eu estava na faculdade de teologia, eu lutei com a ideia de que existe um demônio atrás de cada árvore. Eu conheci muita gente sofrida e elas não pareciam estar endemoniadas. E se corações partidos (ou cérebros partidos) são indicações de possessão de demônios, isso não incluiria um número enorme de pessoas? Eu amava minha tia e eu tinha certeza de que ela não estava endemoniada. Ela estava doente, exausta e desorientada. Ela estava com muita dor, assim como estão com muita dor 44.193 pessoas na América que morrem de suicídio a cada ano (AFSP.org).

A verdade é que eu passei a entender exatamente como a minha tia se sentiu por tantos anos. Eu era um pastor e queria morrer. Todo mundo pensou que eu estava no topo do mundo. Na verdade, eu estava era muito envergonhado pra confessar que eu sentia que o mundo é que estava com todo seu peso sobre mim. No dia 21 de setembro de 2012, um dia anterior ao primeiro aniversário do meu filho, meus segredos foram revelados. Minha vida estava em perigo numa UTI. Quando fui estabilizado, me mandaram para a ala psiquiátrica, seguido de aconselhamento intenso e terapia, e me deram novos medicamentos. Durante a minha recuperação, a minha pergunta principal era “Será que vou ter um lugar na igreja novamente?”

Quando pedi demissão da pequena igreja Batista onde estava servindo quando tentei me suicidar, eu não sabia o que ia acontecer com o relacionamento que sempre tive com a igreja. Eu acreditava firmemente que a Igreja de Jesus Cristo era a esperança do mundo, mas será que também era a esperança para um pastor que se sentia um fracasso? Para onde vai a pessoa que não se sente suficientemente homem, marido ou cristão o suficiente e não tem mais onde descansar seus fardos?

Em minha atividade anterior no ministério, conheci um pastor de adoração que também viajava com uma banda. Ele era sociável e gentil, e eu acreditava que ele realmente gostava de mim. Ele também era metodista. Reuni coragem para ligar para esse conhecido que virou amigo e nos sentamos no Starbucks enquanto eu desnudava minha alma. Tudo o que estava acontecendo. A vergonha, a vergonha e os segredos profundos, feios, que apodreciam sob a superfície por quase 30 anos.

Ele me convidou a ir pra igreja. Pela primeira vez, não fui convidado pra pregar ou por causa do meu dom musical. Eu fui convidado para uma comunidade de pessoas que iam me amar, no meio da minha dor. Esse meu amigo, ecoou as palavras de Jesus para mim, que vem de Mateus 11:28-30:

Venham a mim, todos vocês que estão cansados de carregar as suas pesadas cargas, e eu lhes darei descanso. Sejam meus seguidores e aprendam comigo porque sou bondoso e tenho um coração humilde; e vocês encontrarão descanso. Os deveres que eu exijo de vocês são fáceis, e a carga que eu ponho sobre vocês é leve.”

Ele não me deu um sermão. Ele não pregou pra mim. Ele não me disse para escolher a alegria. Ele nem mesmo trouxe sua Bíblia para o café. O que Ben ofereceu naquele dia foi um presente de amizade: um lugar seguro para descansar minha cabeça. Ele me deu a oportunidade de contar minha história com pura honestidade e sem medo de rejeição.

A minha família passou boa parte daquele ano na igreja do Ben, descansando. Nós nunca fizemos parte da liderança. Nós não oferecemos grandes atos de serviço. Assim como aconteceu no passado com minha tia, nós estávamos exaustos, quebrados e nos sentindo desorientados. E o que encontramos foi segurança, gentileza e aceitação.

Historicamente, pessoas com doenças mentais não são compreendidas dentro das Igrejas. Mas nós podemos mudar isso. Nós não precisamos que você, como membro, aja como nosso psiquiatra; ao contrário, espere e incentive que nós procuremos e tenhamos um. Nós não precisamos que você tente nos consertar. Nós nem precisamos que você nos entenda, apesar de que nos sentiríamos muito bem se você tentasse. O que nós precisamos é que você sente-se conosco quando estivermos tristes ou com dor ou quando não tivermos o que dizer. É bom que nos digam que Jesus nos ama, mas o que seria melhor é nos mostrar amor e aceitação. Nos diga “venha como estiver” e seja sincero. Uma coisa que as pessoas com depressão precisam é de um amigo.

Você é o tipo de amigo que realmente tenta entender? Você está disposto a sentar com alguém em crise ou sofrendo, por conta de seu distúrbio, sem julgamento? É o que queremos.




Se você ou alguém que você conhece precisa de ajuda, ligue para o número do CVV: 188 e procure ajuda especializada de um psicólogo ou psiquiatra.


Texto original: THE ONE THING DEPRESSED PEOPLE NEED by Steve Austin / https://medium.com/@rethinkchurch/the-one-thing-depressed-people-need-d810521e975d
Tradução livre e adaptada


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