sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Um sacerdote deve ser processado por não revelar os pensamentos suicidas de um fiel?



A viúva de um homem que confiou a um sacerdote da cidade de Bruges, na Bélgica, sua intenção de se suicidar apresentou uma queixa-crime contra o padre.
O Ministério Público de Bruges entende que o padre seja, sim, processado por não ter comunicado o fato. Alexander Stroobandt, 57 anos, capelão em uma casa de repouso e administrador de um site que ajuda homens e mulheres em luto, alega segredo de confissão e acredita que ele fez de tudo para deter o homem que dirigiu-se a ele para pôr fim à própria vida.
"Nunca, pensei em chamar a polícia. Mantive o segredo da confissão. Meu interlocutor falou comigo em sigilo e me avisou que suas intenções eram sérias. Então fiz tudo o que pude para convencê-lo a não tomar uma decisão apressada".
Os fatos datam de 2015, quando um residente de 54 anos de idade da casa de repouso entrou em contato com o padre Stroobandt por telefone. Sofrendo de grave depressão, o homem deu a conhecer suas intenções de acabar com a vida. Para o padre, foi uma confissão. O fato de ter ocorrido através de uma chamada telefônica não altera nada a seus olhos. A conversa durou por volta de uma hora e o padre Stroobandt teria feito de tudo para demover seu interlocutor de seus pensamentos suicidas.
Sua viúva descobriu, na memória de seu telefone celular, uma série de SMS que destacavam as ligações entre seu falecido marido e o padre. "O padre sabia o nosso endereço, ele poderia ter alertado a polícia, mas ele não fez nada. Quando entrei em contato com ele, ele se escondeu atrás do segredo da confissão e me disse que tinha feito de tudo para convencer meu marido a não se suicidar. Mas o segredo da profissão é tão santificado a ponto de colocar um ser humano em perigo? Eu não entendo assim." Na verdade, a viúva contratou um advogado e decidiu apresentar uma queixa. Ela não procura a condenação do padre, mas quer que tal atitude não possa ser repetida em outras ocasiões.
O sacerdote continua convencido de seu direito e acredita que, se o segredo da confissão for atacado, a relação de confiança entre um clérigo e a pessoa que confia nele se tornará impossível.
Mas o segredo da confissão deve ser mesmo absoluto? É certo que o Código de Ética de várias profissões determina que os médicos, psicólogos, etc., e todos os outros depositários, por estado ou profissão, dos segredos que lhes são confiados (não é o caso, para esses profissionais de relatos sobre suicídio) serão punidos até mesmo com a cassação de seu registro profissional se revelarem esses segredos, exceto nos casos em que são chamados a testemunhar num tribunal ou quando a lei obriga-os a dar a conhecer esses segredos.
Mas o segredo da confissão não é absoluto. Nenhum profissional pode se colocar atrás de um segredo se um valor maior está em jogo, por exemplo o respeito pela vida. O sacerdote, recebendo a confissão de seus fiéis, o advogado, recebendo a confissão de seus clientes, o médico, recebendo as confidências de seus pacientes, estão isentos de invocar segredo profissional se está em jogo a violação de um valor maior.

“O segredo da profissão é tão santificado a ponto de colocar um ser humano em perigo? Eu não entendo assim." Para a Igreja e o sacramento da confissão, fica a questão.


Se você ou alguém que você conhece está lutando com as questões abordadas neste texto, por favor, procure a ajuda profissional de um psicólogo ou psiquiatra e ligue para o número do CVV: 141.


Texto original:  Un prêtre poursuivi pour ne pas avoir révélé les pensées suicidaires d'un fidèle. Jean- Claude  Matgen /http://www.lalibre.be/actu/belgique/un-pretre-poursuivi-pour-ne-pas-avoir-revele-les-pensees-suicidaires-d-un-fidele-5a0ae0e7cd70fa5a063b9ccb

Texto livremente traduzido e adaptado.



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