Minhas doces meninas,
Um dia vocês vão entender e tudo vai fazer sentido. Eu sei que
agora é muito confuso ver seu pai passar por todas essas coisas. Vocês são
crianças ainda para entenderem o que uma doença mental é. Vocês percebem,
mas não sabem que ela tem um nome – depressão.
Eu tenho essa doença chamada depressão, transtorno depressivo
persistente para ser exato. Acontece que eu a tenho desde o começo de minha
vida adulta. Eu sabia que na adolescência algo de seriamente errado estava
acontecendo comigo, que as pessoas "normais" não têm esses
pensamentos escuros e terríveis que eu tinha. Era tanta a escuridão que eu
quase tirei a minha própria vida quando tinha 16 anos e, até hoje, não sei
exatamente por que eu decidi (no último momento) não puxar o gatilho. Mas
estou feliz que eu não tenha feito.
Eu nunca tinha procurado ajuda profissional até vocês três surgirem na
minha vida. Eu estava com medo do que
as pessoas pensariam de mim: com
medo de perder a minha carreira, com medo de que as pessoas que eu amava me
deixassem se soubessem o que se passava na minha cabeça. Tentei chegar até
algumas pessoas que eu confiava, mas quando vi como elas reagiram, decidi que
não valia a pena contar. Pensava que estava sozinho, e ninguém jamais me
entenderia. Nem mesmo eu sequer entendia o que estava acontecendo comigo.
Olhando para trás, eu tive pelo menos três episódios depressivos maiores
na minha vida. Este último tem sido o pior, de longe. Eu tive muito
mais sintomas físicos do que antes, juntamente com os sintomas mentais
incapacitantes de tristeza, desesperança e apatia. Tenho certeza que é
muito confuso para vocês assistirem eu passar por tudo isso, e eu sinto muito,
mas não posso explicar isso agora de uma maneira que faça sentido para vocês.
Sinto muito pelas vezes em que permaneci deitado na cama durante todo o
dia quando vocês queriam brincar. Sinto muito pelas vezes que eu estava
presente, mas que realmente não estava. É uma tortura contemplar o olhar
decepcionado de vocês quando eu digo, "Desculpe queridas, papai não pode
brincar hoje." Eu sinto muito quando não posso levar vocês ao parque,
brincar com as bonecas, sair para caminhadas e passeios de bicicleta como uma
família.
Eu mantenho a esperança de que um dia vocês vão olhar para trás e
perceber que fiz o melhor que pude.
Obrigado pelos abraços, o aconchego, amor, graça, que vocês me dão e que
eu espero que continuem me dando. Quando a esperança faleceu, vocês foram
a minha esperança. Vocês têm sido a razão pela qual eu continuei lutando e
me mantive vivo. Vocês são a razão pela qual eu passei por tantas mudanças na
medicação, tantas sessões de terapia, na esperança de que eu possa estar junto
de vocês da melhor forma possível. Quando eu estou nos meus piores
momentos, eu penso em vocês e encontro a coragem para seguir em frente. Eu
estive e ainda estou determinado a estar aqui para vocês, para ver vocês
crescerem e se tornarem em jovens e belas mulheres.
Estou esperançoso de que vocês viverão em um mundo onde não haverá
nenhum estigma para aqueles que são portadores de uma doença mental. Estou
esperançoso que vocês nunca andarão por esta estrada escura de lutar consigo
mesmo. No entanto, se vocês tiverem que enfrentar estas questões, podem
ter certeza que não terão nenhum defensor maior do que eu. Estarei sempre aqui
ao lado de vocês, não importa para quê. Vocês não têm que ter medo, pois
jamais estarão sozinhas neste mundo.
Amor para sempre,
Seu pai
Se você ou alguém que você conhece precisa de ajuda, ligue para o número
do CVV: 141 e procure ajuda especializada.
Texto original: To My
Daughters, One Day You’ll Understand Why Daddy Couldn’t Always Play By
Sean
Hagey
https://themighty.com/2016/11/a-letter-to-my-daughters-explaining-my-depression/
Tradução livre e adaptada
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