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Tristeza Profunda morava num reino de faz de conta, mas quando o encantamento
acabou ela agora decidiu suicidar. Apareci diante dela na forma de um
desconhecido inesperado e adverti que a morte é um ponto de vista equivocado.
Olhei para o céu e lhe perguntei “de que são constituídas aquelas brancas nuvens?
”, respondeu “da água” e “aquele belo rio? ”, perguntei novamente, respondeu
“água também".
Disse-lhe
que “morre o rio” para “nascer a nuvem”, e que depois “morre a nuvem” e
“renasce o rio”, mas que estas mutações em nada alteram a existência da água,
apenas perambula por diferentes estados, surgindo, desaparecendo e ressurgindo
aqui e ali. Ela compreendeu que os seres assumem, surgem e ressurgem em
diferentes estados de existência, um após o outro, contudo, insistiu dizendo
que se a morte não é um mergulho no nada, mas renascimento, então o suicídio
traria a vantagem de finalizar uma existência sem valor, dando a chance de
“começar do zero” em outra.
Aleguei
que juízos de valores e comparação entre as pessoas são ilusões, um equívoco
muito comum, pois a natureza não coloca etiqueta de preço nas pedras, nas
árvores, nem nas estrelas, e que os bebês não recebem uma etiqueta de preços e
sim uma certidão de nascimento, seguem assim pela vida: o gordo não vale mais
que o magro, o sorridente não vale mais que tristonho, pois uma grande nuvem
não vale mais do que uma pequena nuvem, são meras aparências.
Aleguei
ainda que a ideia de “recomeçar do zero” é outra afirmação enganosa, há sim uma
continuidade. Colhemos os frutos de nossas ações passadas e continuamos a
jornada. No Budismo citamos que os seres são um fluxo, denominado “continuidade
mental”.
Pedi
à Tristeza Profunda que meditasse nesta parábola:
“Dois
trabalhadores cultivavam os campos de uma fazenda. Ao fim do dia, o primeiro
trabalhador devolve sua enxada quebrada e o campo mal cultivado, o outro
trabalhador devolve sua enxada bem conservada e o campo cultivado. No findar do
dia, o dono da fazenda aparece, é um homem justo, avalia a situação e recompensa
a ambos.
O
trabalhador descuidado fica com a enxada que danificou e algumas poucas moedas,
o trabalhador cuidadoso fica com sua boa enxada, e recebe grande quantia em
dinheiro. No dia seguinte, ambos recomeçam o trabalho a partir de onde pararam
- cada um com seu salário e sua enxada”.
O
dono da fazenda é a Lei de Causa e Efeito que dá a cada um, conforme aquilo que
cultivou. O dia seguinte é a vida seguinte. Ambos reiniciaram o trabalho a
partir de onde pararam no dia anterior, isto é, recomeçam e não começam do
zero. As moedas representam as novas possibilidades, isto é, numerosas ou
escassas.
O
Buda disse: “a porta que está fechando nesta vida, está abrindo na outra vida,
é como sair de um cômodo e entrar noutro cômodo no palácio da existência”. A
morte é a porta do renascimento. De acordo com todos os iluminados morrendo
constatamos que o conceito de extinção nunca passou de uma farsa e que não há
um ponto final em nada, nem nas virtudes que conquistamos e nem nos problemas
que causamos...
O
corpo é um saco de pele com um amontoado de ossos e carne “amarrados” por
nervos e músculos, já disse Nagarjuna. É a mente quem vive e anima o copo. Ela
é imune a cortes, tiros, forca, afogamento, queimaduras e veneno. Desta forma,
nem suicídio resolve os problemas de uma pessoa, bem como a sentença de morte
não resolveria os problemas da coletividade humana. Matar as ilusões limparia
nossas mentes, nos revelando a amplitude da vida, matar o corpo é multiplicar
problemas.
Temos
mãos não só para receber e ganhar, mas também para servir a todos os seres. É aí,
enraizando nesses pensamentos um novo estilo de vida, que morrerão, um a um, os
nossos problemas.
(Disponível
em http://www.facebook.com/budismoeensinamentosorientais)
Excelente reflexión y gran verdad.
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