sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Pra que a morte do meu irmão não seja em vão.


Há 5 dias atrás meu irmão, meu ídolo, minha inspiração como artista, um exemplo como pai, como marido e como homem em muitos aspectos, tirou a própria vida com apenas 35 anos de idade. Por mais triste, terrível e doloroso que esteja sendo, sinto que devo expor um pouco dessa tragédia, de tudo que aprendi e estou aprendendo com ela.
Aprendi que é muito reconfortante, dá muita força e é fundamental em uma situação como essa receber carinho. É verdade, não tem muito o que ser dito, mas saiba que qualquer abraço, olhar, mensagem ou carinho como dizer “estou aqui; me sensibilizo com sua dor, como vc está? ” faz muita diferença pra quem passa por algum tipo de situação dolorosa ou de perda.
Por isso quero MUITO agradecer aos meus parentes, amigos que me ajudaram e apoiaram MUITOS, conhecidos, fãs, enfim, TODOS que se deram ao trabalho de conseguir meu telefone ou me escrever uma mensagem, quem o fez por facebook, twitter, instagram. Vou responder com carinho a cada uma das zilhões de mensagens em breve.
Aprendi a ter mais compaixão por todos que estão aqui nesse momento no mundo comigo. Todos nós carregamos uma cruz. O suicídio do meu irmão aliado ao carinho de tanta, tanta, tanta gente, me fez perceber algo que pra mim já era claro: estamos todos conectados.
Estava voltando do Vale do Capão, cheguei em Palmeiras esperando o ônibus pra viajar a madrugada toda, 7 horas até Salvador. Tinha acabado de receber a notícia do suicídio do meu irmão por telefone e estava absolutamente sozinho e bem longe de qualquer abraço conhecido. Absorto no meu sofrimento e abstração do mundo sentei no lugar onde uma senhora de uns 50 anos estava sentada. Ela foi super grosseira comigo me enxotando agressivamente do lugar dela. Eu não revidei, nem respondi, tive uma epifania naquele instante. Percebi que tinha que ser gentil e educado. Além de não ajudar em nada ali, uma resposta na mesma vibração negativa, me deixaria emocionalmente ainda pior e espalharia mais energia negativa e rancor. Além disso eu não sei o peso da cruz que havia por trás daquele amargor e grosseria, bem como ela não sabia do peso da cruz que eu carregava naquele momento. Não sou Jesus nem Buddha, mas gentileza gera gentileza, compaixão gera compaixão e a gente precisa ter mais compaixão uns com os outros, todo o mundo só tem a ganhar com isso, e isso só depende da atitude diária de cada um de nós.
Aprendi a ter mais amor e a resolver hoje, não amanhã ou semana que vem as pendências que eu tenho na minha vida.
Nunca me dei mal com meu irmão, mas ele era muito tímido e fechado. Sempre tive desejo de ser mais amigo dele e me sinto muito feliz de ter buscado e conseguido isso antes dele morrer. Tenho certeza que este momento agora seria muito mais difícil caso não tivesse buscado essa aproximação, caso eu não tivesse dito que amava ele, caso não tivesse conversado tanto nos últimos dias, caso não tivesse falado no domingo que ele não estava sozinho e que podia contar comigo pro que quisesse e precisasse. Não deixe pra amanhã a aproximação de quem está distante de você, a fala presa na garganta, porque o amanhã com essa pessoa pode não existir. Não tenha vergonha de dizer que ama seus entes queridos.
Aprendi um significado mais profundo de livre arbítrio.
Quando alguém próximo a você comete suicídio quase todos que conheciam a pessoa tem a sensação de que poderiam ter salvado ela, caso tivessem feito ou deixado de fazer algo. Esse sentimento é um equívoco pois ele só surge diante de uma perspectiva que não se tinha antes do ocorrido. Ninguém, absolutamente ninguém que tenha o mínimo apreço pela vida da pessoa que se matou, deixaria de ajudá-la, ou de tentar convencê-la de não fazer isso, caso já soubesse que a pessoa poderia de fato vir a se matar.
Além disso, ouvi diversos casos de pessoas que perderam alguém através de um suicídio que demonstram que a determinação da pessoa é tamanha que não há quase nada que a impeça de tomar essa atitude. E o fato é: não aconteceria caso ela própria não escolhesse esse caminho.
Existem diversas razões pela qual uma pessoa escolhe esse caminho de tirar a própria vida, um deles é a depressão. Não pretendo entrar em detalhes dos sintomas e curas desta doença, mas quero sim deixar claro que é uma doença séria que precisa de tratamento. O problema é que é difícil distinguir traços de personalidades fechadas com depressão, e você pode tentar alertar as pessoas da seriedade de cuidar da cabeça, fazer de tudo pra ajudá-las, mas só a própria pessoa tem o livre arbítrio de andar com as próprias pernas até o consultório.
Se hoje me elogiam pela minha serenidade e clareza em um momento tão duro, aceito e agradeço o elogio, mas o mérito é da fé, do amor e da psicologia. Fé e amor são experiências pessoais minhas, mas a psicologia é uma ciência ao alcance de todos.
Assim espero que se divulgue e se fale mais de como é saudável cuidarmos da nossa mente, que se fale mais da seriedade dessa doença, que as pessoas não deixem de buscar tratamento psicológico por preconceito e ignorância. Terapia e psicologia não é frescura, besteira, ou coisa pra quem é maluco como já ouvi de gente bronca, ela pode aliviar e até salvar muitas vidas.
Escrevo esse texto com o intuito de que minha mensagem atinja o maior número de pessoas possível pra que não só eu minha família e as pessoas diretamente conectadas ao Fausto aprendamos algo com essa situação trágica. Exponho um pouco da minha vida e da vida do meu irmão pra que você que lê não precise passar por algo traumático como eu pra praticar estas lições, pra que essa mensagem sirva de alento pra quem já passou e não superou ou para quem venha a passar por essa mesma situação, escrevo pra que a morte e o sofrimento do meu irmão não sejam em vão, pra tentar passar um pouco desse amor que eu aprendi a ter ainda maior pela minha vida, pela vida dos meus familiares e amigos, pela vida de pessoas como você que lê. Ainda que não nos conheçamos: estamos todos conectados.
Franco Fanti
Este texto foi publicado por Franco Fanti, irmão de Fausto Fanti (Hermes e Renato), em 05/08/2014.




Se você ou alguém que você conhece precisa de ajuda, ligue para o número do CVV: 141 e procure ajuda especializada.

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