Óleo sobre tela: Silêncio / Fabiano Millani
Uma
amiga chegou esta manhã para me pedir um conselho. Um querido amiga dela havia
morrido por suicídio.
"O
que você diz quando alguém tira a sua própria vida?" Perguntou ela.
Poderia ter sido eu.
Minha
amiga e eu conversamos brevemente sobre seu amigo. Eu nunca o tinha
encontrado; eu não o conhecia. Mas, ao mesmo tempo em que eu a ouvia falando sobre o suicídio dele, eu senti como se o conhecesse muito bem. Pude
sentir o que se passou com ele no exato minuto em que tirou a própria vida. Eu me
conectei à ele de uma maneira muito profunda.
Ficamos
conectados porque eu conheço bem os demônios que ele carregava. Eu
acredito que os meus são os mesmos. Eu posso imaginar o que ele poderia
ter sentido: como é você estar em um corpo que é ocupado por outra pessoa. Como
é você estar se afogando. Como se você estivesse engolindo água quando
todos à sua volta estão respirando ar puro. Eu tenho visto o mundo através
da mesma névoa negra e atravessado a mesma areia movediça pegajosa. Eu
sei. Eu estive lá.
Eu
costumava pensar que a dor me fez uma pessoa isolada. Que a dor emocional
profunda que eu tenho experimentado me fez diferente de você, me tornou inferior à você. Eu escondi a minha dor, porque eu tinha medo que você venha
a pensar que eu sou fraca. Eu estava com medo de que minha escuridão tenha
feito de mim uma pessoa feia. Eu estava com medo de que se as pessoas
soubessem o tipo de pensamentos que tenho, os pensamentos que me diziam que eu
não valia nada e não merecia viver, elas me tratariam realmente como se eu não
merecesse viver.
Eu
não falei com ninguém sobre minha dor até que foi quase tarde demais. Eu
não contei a ninguém que eu queria morrer até que eu quase me matei. Mas
depois que eu acordei e depois de, com muito esforço, tomar em minhas mãos a
minha própria vida, a esperança
nasceu.
A
esperança escancarou a porta para eu falar abertamente sobre a minha dor. E
quando eu comecei a falar, comecei a ver que havia dores semelhantes em muitas outras
pessoas. Meus olhos já não estavam cegos pelo medo. Eu agora
enxergava outras pessoas que se sentiam com eu, conectando-nos da maneira mais
profunda.
Nunca
foi a dor que me isolou, mas o meu medo. O medo de não ser compreendida, o medo
de ser diminuída, o medo do preconceito. Uma vez que a esperança entrou e
me devolveu a vontade de viver, o medo soltou suas garras. E quando eu
comecei a deixar de lado o medo, comecei a ver a beleza que vive debaixo da
dor.
Minha
escuridão já não me isola. Meus sentimentos de inutilidade e vergonha, meus
pensamentos de que não tenho nenhum valor, os pensamentos que me dizem que eu
não mereço viver, que o mundo seria um lugar melhor sem mim, não me fazem mais
me sentir sozinha. Eles não me isolam porque eu os compartilho. E
falo sobre eles. Eu os utilizo para construir uma ponte entre mim e outras
pessoas que se sentem e pensam da mesma maneira. Nossa escuridão nos
permite que entremos em comunhão, e essa ligação acende uma luz dentro de nós
que nos livra da escuridão.
E
sempre que alguém morre de uma maneira tão trágica, isso soa para mim como um
grande lembrete de por que eu preciso continuar a falar sobre o suicídio e compartilhar
a minha dor.
Alguns
perguntam se eu não tenho medo de falar abertamente sobre as minhas últimas lutas
e, as vezes presentes, intenções suicidas. "Você não está com medo
do que as pessoas pensam? Você não está com medo de como as pessoas vão te
julgar? "
Não. Eu
não estou com medo de falar sobre o suicídio. Estou com medo de ficar calada. O
silêncio é o que alimenta a minha depressão. O silêncio se transforma em pensamentos
e em obsessões e obsessões podem levar a ações. O silêncio é a arma mais
mortal de todas. O silêncio mata. Eu sei que o meu silêncio iria me
matar, e eu não quero morrer.
Eu
falo sobre isso para outras pessoas que estão com medo de falar abertamente sobre
suas intenções suicidas para que elas saibam que não estão sozinhas. Nós
nunca estamos sozinhos, acredite. Vou repetir: nós nunca estamos sozinhos, apesar
de quão solitário que nos sentimos.
Minha
dor não me faz diferente de você. Ele não me faz menos do que você. Minha
escuridão não é feia e maldita. É uma bela ponte que me liga a você. E se
conectar através da dor é a mais poderosa e transformadora conexão que já
experimentei.
Siga
nessa jornada com sentimentos e fé.
Se
você ou alguém que você conhece precisa de ajuda, ligue para o número do CVV:
188 e procure ajuda especializada.
Texto original: Why I'm Too Scared to Stay Silent About Suicide By Christine Suhan
Tradução livre e adaptada
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